Gaeco detalha como operava organização criminosa suspeita de grilagem de terras no Litoral do Piauí



O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) explicou com exclusividade para a TV Clube como operava a organização suspeita de criar um esquema para grilagem de terras no litoral do Piauí nas praias de Macapá, Carnaubinha e Barra Grande. O grupo envolvia empresários, advogados, policiais militares, servidores públicos e um cartório.
De acordo com o promotor Rômulo Cordão, coordenador do Gaeco, a organização tomava terras de posseiros e em seguida tentava legalizar os terrenos, para então revendê-los. Os investigados são suspeitos de utilizar de violência e ameaçar até mesmo um prefeito da região.
O promotor detalhou ainda a investigação para apurar a suspeita de vazamento de informações sigilosas, o que teria favorecido um dos alvos da operação.
Fluxograma mostra como cada pessoa agia dentro de organização criminosa responsável por grilagem de terras  — Foto: Divulgação/GaecoFluxograma mostra como cada pessoa agia dentro de organização criminosa responsável por grilagem de terras  — Foto: Divulgação/Gaeco
Fluxograma mostra como cada pessoa agia dentro de organização criminosa responsável por grilagem de terras — Foto: Divulgação/Gaeco

Terras da União

De acordo com o promotor, o alvo do grupo eram terras próximas ao mar localizadas no litoral do Piauí, nas praias de Macapá, Carnaubinha e Barra Grande. “É um local com grande potencial turístico e exploração de energia eólica”, disse o promotor Rômulo Cordão em entrevista à TV Clube.
Por se tratarem de terrenos bem próximos do oceanos, as terras pertencem à União. Atualmente, estas terras são ocupadas por posseiros, pessoas que moram no lugar há décadas. A organização investigada tinha a intenção de tomar esses terrenos e regularizar a posse para eles, e posteriormente revendê-las.

Milícia

Para tanto, a organização cooptou dois policiais militares para ameaçar e expulsar os moradores das terras. “A organização criminosa se utilizava dos policiais que iam até o local e expulsava se usando de violência, de armas. Inclusive destruindo casas com máquinas e ateando fogo. Isso tudo com uma constante ameaça a todas as pessoas”, explicou o promotor Rômulo.
Segundo a investigação, até mesmo até mesmo o prefeito do município, Kim do Caranguejo (PSB), e servidores do setor de tributos da prefeitura de Luís Correia teriam sido ameaçados para emitir licenças.
“O que a gente evidenciou foi a existência até de uma milícia atuando no local”, disse o promotor. Os policiais militares envolvidos foram alvo da operação “Sal da Terra”, deflagrada simultaneamente à operação Terra Nulius. Eles foram identificados como Valdeci Galeno e Dwan Rodrigues.

Influência na Polícia

O Gaeco apontou um empresário da região identificado como Francisco Araújo, conhecido como “Araujinho”, como líder da organização. Segundo o promotor, o empresário financiava o pagamento de propinas, e tinha grande interesse nas terras a serem griladas.
Segundo Gaeco, dois advogados agiam como intermediários do empresário: Luís Nunes Neto e Apoena Almeida. Os dois teriam atuado nos terrenos, junto com os policiais, para expulsar os moradores, e buscavam proteger o esquema de possíveis investigações da Polícia Civil.
“Luís Neto tinha trânsito muito grande dentro da Polícia Civil. Tanto que ficou constatado que o delegado anterior, que presidia a investigação acerca dessas milícias e dessa grilagem, foi transferido abruptamente para outra cidade enquanto um delegado escolhido pela organização criminosa seria o responsável por tocar o inquérito policial e fazer a vontade desses malfeitores, de levar a investigação para o arquivamento”, explicou o promotor Rômulo.
Um mandado de prisão contra Luís Neto chegou a ser expedido pela Justiça, mas não foi cumprido por que o advogado não foi encontrado em sua casa. Uma nova investigação foi aberta para apurar a possibilidade de vazamento de informações, já que Luís teria sido avisado sobre a chegada dos policiais.
Já o advogado Apoena Almeida, de acordo com o promotor Rômulo Cordão, teria participado para criar uma história para barrar a investigação. “Na prática, houve uma conversa entre Apoena e Francisco Araújo no sentido de deixar a responsabilidade dos atos nas costas do capitão Galeno”, disse.
Grilagem
A investigação apurou que a organização tinha influência no cartório da cidade de Luís Correia, e atuava para tentar regularizar as terras depois da expulsão dos posseiros. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos na casa de gestores do cartório durante a operação Terra Nulius.
“Eles querem dar um manto de legalidade nessas terras, através de documentos que foram expedidos pelo próprio cartório para poder revender essas terras”, disse o promotor Rômulo Cordão.
Gaeco detalha como operava organização criminosa suspeita de grilagem de terras no Litoral do Piauí Gaeco detalha como operava organização criminosa suspeita de grilagem de terras no Litoral do Piauí Reviewed by Júnior Luz on quarta-feira, junho 05, 2019 Rating: 5

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